quarta-feira, 18 de julho de 2012

Nossa Senhora da Penha - 1º Segunda da Páscoa





No ano de 1558, chegou à capitania do Espírito Santo o eremita português frei Pedro Palácios, uma bênção para o primeiro donatário da capitania, Vasco Fernandes Coutinho, que tinha muitas dificuldades com os índios, os quais assolavam as plantações dos portugueses, pelo que já tinha resolvido recorrer à religião para converter os índios e civilizá-los. Frei Palácios erigiu logo um pequeno santuário em cima de um grande rochedo, nu e escuro, cuja base está sempre batida pelo mar. Esse primitivo santuário existe ainda hoje: é um pavilhão retangular de 15 palmos de altura, onde cabem apenas quatro pessoas.

Segundo a tradição local, foi nesse acanhado recinto que frei Palácios colocou uma imagem de Nossa Senhora com o divino filho nos braços, na qual tinha grande devoção. A imagem era representada em um painel de pequenas dimensões que o religioso trouxera de Portugal. Para que pudesse contemplar mais de perto a querida imagem da Mãe de Deus e tributar-lhe mais a miúdo suas piedosas homenagens, o bom religioso habitava uma cavidade do rochedo, de onde podia enxergar o pavilhão e a imagem. Frei Palácios ocupava-se em catequizar os indígenas, tendo conseguido, graças a seu zelo, converter grande número deles.


Convento de Nossa Senhora da Penha , Vila Velha - ES
Para obter maiores favores do céu para essa obra apostólica, resolveu mais tarde construir, em cima do rochedo, uma ermida ao redor de duas palmeiras, que era a única vegetação que havia no local. Aos troncos delas, encostou uma ara em que colocou uma imagem da Virgem, mais bem feita e maior, porém semelhante à imagem pintada no painel depositado no pavilhão.


Muito longa e dificultosa foi a construção dessa ermida, embora fosse de pequenas dimensões e os índios já convertidos auxiliassem frei Palácios. Para animar os piedosos operários, o céu fez nascer abundante fonte de água em cima do rochedo todo o tempo que durou a obra, apenas se acabou a ermida, cessou a fonte.

Os materiais de construção eram carregados em ombros até a raiz do rochedo e depois puxados para cima à força de braços. Foi essa tosca ermida que deu origem ao esplêndido santuário que hoje se admira no mesmo lugar, e a penha, a mesma em que foi colocada a primitiva imagem de frei Palácios, deu origem ao título Nossa Senhora da Penha. 

Um dia, não o vendo em nenhum dos lugares que costumava percorrer, os moradores da vizinhança, alarmados, reúnem-se em grande número e correm ao morro da Penha, procurando-o primeiro na gruta que lhe servia de morada. Não o encontrando ali, o povo sobe o morro e abre a porta da ermida das palmeiras, e aí depara, com grande tristeza, com o corpo de frei Palácios sem vida, dobrado sobre os joelhos, reclinado sobre o altar, com a mão direita aproximada à imagem de Maria, a quem sempre tivera grande veneração e amor, e com a outra no peito, como quem remetia seu coração à augusta Rainha do Universo, ao mesmo tempo em que lhe entregava o último sopro de sua laboriosa vida.

Frei Pedro Palácios

A placidez de seu rosto revelava que não lhe fora custoso o último alento, porque se finara com a consciência pura, como puros foram seus dias no mundo. Via-se ainda em seus lábios entreabertos a expressão de um delicioso sorriso: era o sorriso do devoto de Maria ao deixar os males desta vida para se reunir à celestial protetora que inúmeras vezes o protegera quando se metia pelas matas à procura 
dos indígenas.

  Sua morte foi em 2 de maio de 1575, depois de 17 anos de santa vida passados entre a catequese dos índios e a oração, no morro da Penha. Com o tempo, o número de romeiros que visitavam Nossa Senhora da Penha cresceu tanto que a ermida de frei Palácios tornou-se pequena demais para o culto. Edificou-se então outro santuário, um convento de religiosos franciscanos, para o serviço do povo, bem como vastas acomodações para o alojamento dos romeiros. 

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