sábado, 17 de novembro de 2012

Catequese : XXXIII Domingo do Tempo Comum

Homilia de D. Henrique Soares da Costa - XXXIII Domingo do Tempo Comum
Marcos 13,24-32

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol se escurecerá, a lua não dará o seu resplendor; cairão os astros do céu e as forças que estão no céu serão abaladas. Então verão o Filho do homem voltar sobre as nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos, e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, desde a extremidade da terra até a extremidade do céu.  Compreendei por uma comparação tirada da figueira. Quando os seus ramos vão ficando tenros e brotam as folhas, sabeis que está perto o verão. Assim também quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está próximo, às portas.  Em verdade vos digo: não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.  A respeito, porém, daquele dia ou daquela hora, ninguém o sabe, nem os anjos do céu nem mesmo o Filho, mas somente o Pai”. 

Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo


Estamos no penúltimo domingo do ano litúrgico, ano da Igreja. Depois de termos celebrado o Advento, o Natal, a Quaresma e a Páscoa do Senhor, depois de mais de trinta domingos do chamado Tempo Comum, estaremos encerrando domingo próximo, com a Solenidade de Cristo Rei, o ano litúrgico. Dentro de quinze dias, entraremos num novo ano, com o primeiro domingo do Advento, preparando o santo Natal. O tempo passa, a vida passa... tudo passa!

Pois bem, é próprio da Liturgia, nos últimos domingos do ano litúrgico, fazer-nos pensar sobre o fim de todas as coisas; “fim” no sentido de final; mas também fim no sentido de finalidade e, portanto, de plenitude. E nossa fé nos diz que a plenitude, o "fim" de tudo é o Cristo Jesus: ele é o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, “através dele e para ele tudo foi criado no céu e na terra” (cf. Cl 1,15ss), é ele quem, no final dos tempos, virá como “Filho do homem, nas nuvens com grande poder e glória” (evangelho). Ou seja, Cristo morto e ressuscitado é a consumação e a finalidade, a plenitude e o sentido de tudo quanto existe! Para ele tudo corre, como o rio corre para o mar; e, no fim, ele entregará tudo a Deus, seu Pai, na potência do Espírito Santo (cf. 1Cor 15,28)! Vejamos: 

Com a vinda do Cristo, com seu aparecimento glorioso, toda a criação será transfigurada. É isto que o evangelho deste domingo afirma numa linguagem simbólica, impressionante, chamada apocalíptica: “O sol vai escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas”. Em outras palavras: este mundo como nós conhecemos será transfigurado, será purificado de toda fragilidade, de toda maldade, de toda tirania: “Vi então um novo céu e uma nova terra. Pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (Ap 21,1). A imagem é belíssima: passou o mundo antigo; o mar, símbolo do caos, foi destruído. Aquilo que já começou com a ressurreição de Cristo, aquilo que começou em nós com o Batismo acontecerá a toda a criação: “Se alguém está em Cristo, é criatura nova. O que era antigo passou, agora tudo é novo” (2Cor 5,17). Que consolo, que beleza: o mundo não caminha para o nada, para o vazio, para a destruição: por ocasião do aparecimento glorioso do Senhor Jesus Cristo, tudo será purificado com o fogo do Espírito Santo, será transfigurado, mais que nos dias de Noé, com a purificação pela água: “O Dia do Senhor chegará como um ladrão, e então os céus acabarão com um estrondo espantoso; os elementos, devorados pelas chamas, se dissolverão, e a terra será consumida com todas as obras que nela se encontrarem. O que esperamos são novos céus e nova terra” (2Pd 3,10.13). Mais uma vez, é preciso compreender: a linguagem é apocalíptica! No fogo do Espírito Santo, no qual o mundo será julgado (cf. Jo 16,8-11), tudo que não foi amor, que não foi segundo Cristo, será dissolvido; e o que foi amor, será transfigurado, e teremos novos céus e nova terra, livres de todo o pecado e de toda a maldade! Como não nos alegrar com tal esperança? Como não repetir, agradecidos, as palavras do Livro da Sabedoria? “Teu grande poder está sempre a teu serviço, e quem pode resistir à força do teu braço? O mundo inteiro está diante de ti como um nada na balança, como a gota de orvalho que de manhã cai sobre a terra. Mas te compadeces de todos, pois tudo podes, fechas os olhos diante dos pecados dos homens, para que se arrependam. Sim tu amas tudo o que criaste, não te aborreces com nada do que fizeste; se alguma coisa tivesses odiado, não a terias feito. E como poderia subsistir alguma coisa, se não a tivesses querido? Como conservaria sua existência se não a tivesses chamado? Mas a todos poupas, porque são teus: ó Senhor, amigo da vida!” (Sb 11,21-26). 

(2) Mas, não é só! A manifestação gloriosa do Senhor será também o dia bendito da nossa ressurreição. É verdade que, logo após a morte, na nossa dimensão espiritual, a que chamamos “alma”, seremos glorificados da glória de Cristo. Por isso mesmo São Paulo afirma: “Estamos cheios de confiança e preferimos deixar a moradia do nosso corpo, para ir morar junto do Senhor. Por isso, também, nos empenhamos em ser agradáveis a ele, quer estejamos no corpo, quer já tenhamos deixado esta morada (2Cor 5,9). Aos filipenses, o Santo Apóstolo confessava: “O meu desejo é partir para estar com Cristo” (Fl 1,23). Que ninguém duvide: nem a morte nos separa do amor de Cristo (cf. Rm 9,38): imediatamente após deixarmos este mundo, estaremos com o Senhor na nossa alma. Mas, nosso corpo, somente será glorificado no Dia final, no Dia da Ressurreição, quando toda a matéria for glorificada! É a este dia final que chamamos Dia da Ressurreição: “Muitos dos que dormem no pó da terra, despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno. Mas os que tiverem sido sábios, brilharão como o firmamento; e os que tiverem ensinado a muitos os caminhos da justiça, brilharão como as estrelas, por toda a eternidade” (1a. leitura). Que imagem impressionante! No Dia de Cristo, todos estaremos vivos no corpo e na alma. Mas, há uma discriminação, uma diferença de destino, uma separação, um julgamento: os que tiverem sido abertos para Cristo, com seu corpo e sua alma, com todo o seu ser, estarão na glória de Cristo; os que se fecharam para ele, já logo após a morte, estarão longe dele e, no fim dos tempos, tal danação será também a do corpo! Que destino miserável, que sorte horrenda! Seria melhor nem existir mais! Isto nos recorda a necessidade da vigilância, a necessidade de nos abrirmos para o Cristo nos dias de nossa vida! Por isso mesmo Jesus previne cada geração: “Aprendei, pois da figueira! Quando virdes acontecer estas coisas, ficai sabendo que o Filho do Homem está próximo, às portas! Esta geração não passará até que tudo isso aconteça. Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai!” (evangelho). Jesus nos previne: cada geração deve estar atenta ao sinais de Deus; cada geração deverá compreender que chegou o tempo, o momento de decidir-se por Cristo ou contra Cristo, pela vida ou contra a vida! Vigiai! Estai preparados! Cristo “sentou-se para sempre á direita de Deus” (2a. leitura); ele se ofereceu por nós. Não recebamos em vão a sua graça, o convite que ele nos faz! 

Finalmente, a vinda do Senhor será a glorificação de toda a Igreja, Comunidade dos eleitos de Cristo: O Filho do Homem “enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra” (evangelho). Então, a Igreja estará plena, totalmente completa, totalmente glorificada: “Vi também a Cidade Santa, a nova Jerusalém, descendo do céu, de junto de Deus, vestida como noiva enfeitada para o seu Esposo. Então, ouvi uma voz forte que saia do trono e dizia: ‘Esta é a morada de Deus com os homens. Ele vai morar junto deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus-com-eles será o seu Deus. Ele enxugará toda lágrima de seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas antigas passaram’. Aquele que está sentado no trono disse: ‘Eis que faço novas todas as coisas!’” (Ap 21,2-5). Que beleza: a Igreja será plenamente Corpo de Cristo, será plenamente santa no Espírito de Cristo, será plenamente católica, pois abarcará toda a humanidade salva, será totalmente una, pois toda a divisão trazida pelo pecado será superada, será totalmente apostólica, pois construída sobre os doze alicerces, que são os apóstolos do Cordeiro! 

Eis a nossa esperança! Eis a nossa certeza! Eis para onde caminhamos! Num mundo que dorme, vigiemos: “ficai sabendo que o Filho do Homem está próximo, às portas!” (evangelho). Não durmamos, como os pagãos! Não somos da noite; somos filhos deste Dia bendito: Dia de Cristo, Dia da Ressurreição, Dia da Salvação: ‘Vós, meus irmãos, não andais em trevas, de modo que esse Dia vos surpreenda como um ladrão; pois que todos vós sois filhos da Luz, filhos do Dia. Não somos da noite nem das trevas. Portanto, não durmamos como os outros; mas vigiemos e sejamos sóbrios! Deus não nos destinou para a ira, mas sim para alcançarmos a salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós, a fim de que nós, na vigília ou no sono, vivamos em união com ele” (1Ts 5,4-6.9-10). Não esqueçamos: a Luz é Cristo, o Dia é Cristo. Vivemos na luminosidade dessa Luz, na perspectiva desse Dia!

Que a certeza da nossa esperança em Cristo preencha os pobres dias de nossa vida, para que vivendo bem neste mundo, plantemos a nossa eternidade. A Cristo, Senhor dos tempos, a glória para sempre. Amém!

Dom Henrique Soares da Costa

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